A liberdade, em geral, sempre foi algo muito almejado por todas as pessoas. Praticamente ninguém no mundo acredita que viver sem liberdade seja melhor do que viver livre, com suas próprias decisões e responsabilidades.
Esse assunto, que já era importante, ficou mais ainda em pauta nos últimos 2 anos, devido à pandemia e todas as situações que a mesma proporcionou em todo nosso planeta.
Medidas de restrições tentavam controlar a doença, e ao mesmo tempo limitavam certa liberdade das pessoas de irem e virem por onde ou da forma que quisessem. Muita gente se revoltou contra essas restrições, mas também muita gente apoiou, dizendo que era o correto.
Quem apoiou usou como argumento que era necessário, pelo bem de todos (não quero aqui discutir se era o correto ou não). Mas, e aí, como decidir se é aceitável limitar a liberdade ou manter as pessoas 100% livres?
Na verdade, a resposta é que, se você realmente é defensor da liberdade, você deve defendê-la sempre.
Um pensador antigo já dizia que “O Preço da Liberdade é a Eterna Vigilância”, e o que ele queria dizer com essa frase é que se o mundo quer ser livre, ele deve vigiar constantemente qualquer movimento em sentido contrário, e já extinguir esse comportamento logo no início.
Comportamentos ditatoriais e anti-liberdade quase sempre começam de forma branda, com apoio de muitas pessoas por parecer o certo naquele momento, e vai ganhando força e rigidez progressivamente, até se tornar indesejado e compulsório. Porém, em geral, neste ponto não há mais volta.
Sendo assim, é importante que a liberdade seja defendida sempre, mesmo que você pense que naquele momento algo deva ser proibido.
Como exemplo, há algumas semanas tivemos alguns episódios que envolveram restrições de liberdades, e que muitas pessoas concordaram com um e abominaram o outro. Tivemos na mesma semana a ordem de bloqueio do aplicativo de mensagens Telegram, pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, e a proibição de um filme do ator Danilo Gentili de ser transmitido em canais de streaming.
Pois bem, você pode ficar bravo com o bloqueio do Telegram dizendo que é censura e que fere a liberdade individual. Mas então também deveria defender a liberdade de o filme ser exibido, mesmo que você não goste do teor do filme.
Da mesma forma, tivemos deputado preso por se manifestar agressivamente em redes sociais e a tentativa do governo de impedir manifestação política no festival de música Lollapalooza. Em geral, neste caso, grande parte das pessoas foram a favor de um e contra o outro.
Pois bem, é assim mesmo que acontece: se hoje você defende a proibição de algo que lhe parece ruim, amanhã algo que você considera bom também será proibido. Se hoje você aceita que a liberdade do outro que lhe parece tolo seja limitada, amanhã a liberdade controlada será a sua. Não há como, quando o assunto é defesa da liberdade, ser seletivo apenas quando o assunto lhe interessa.
Dessa forma, é necessário realizar uma reflexão mais profunda sobre o tema liberdade. Como já dizia Mises, não importa se a posição do outro lhe parece sem sentido ou equivocada, quando o assunto é “liberdades individuais”, você deve defender sempre o direito do outro, mesmo que seja o direito do outro de ser tolo. Porque não é o estado quem deve decidir o que você pode ou não ouvir, pode ou não ver. Não gosta de um filme? Basta não ver. Não gosta de um festival de música, basta não ir. Não gosta de um artista? Basta não o prestigiar. Só assim a sua própria liberdade poderá ser também preservada.
Por fim, termino este texto com uma frase que acho que reflete bem esse pensamento, da autora Evelyn Beatrice Hall, defensora da liberdade: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las”.