A família de Vitória Chaves da Silva, jovem de 26 anos que morreu em fevereiro deste ano após passar por seu terceiro transplante de coração, denunciou duas estudantes de medicina por publicarem um vídeo nas redes sociais ironizando o caso. A gravação foi feita no dia 17 de fevereiro e publicada no TikTok.
No vídeo, as alunas comentam com espanto sobre a história clínica de Vitória: “A gente está em choque, sem acreditar até agora. São sete horas da manhã. Uma paciente que fez transplante cardíaco três vezes. Um transplante já é burocrático, raro, tem questão da fila, da compatibilidade… Agora, uma pessoa passar por um transplante três vezes… isso é real e aconteceu aqui no Incor”, dizem. Em tom irônico, completam: “Essa menina está achando que tem sete vidas”.
As falas repercutiram negativamente após familiares de Vitória identificarem o vídeo e denunciarem o conteúdo, apontando desrespeito à memória da jovem e à gravidade de sua trajetória médica. As estudantes também afirmam que um dos transplantes falhou por “falta de comprometimento da paciente em tomar os remédios corretamente”.
A irmã de Vitória contestou a declaração, alegando que se trata de uma informação errada e que possui provas, inclusive com a médica responsável pelo acompanhamento da jovem, de que o episódio envolveu uma condição clínica conhecida como doença do enxerto contra o hospedeiro — e não negligência no tratamento.
Vitória nasceu com cardiopatia congênita e, ainda recém-nascida, recebeu o prognóstico de que teria apenas 15 dias de vida. Aos quatro anos, foi levada a São Paulo após uma parada cardíaca e, aos cinco, passou por seu primeiro transplante. Dez anos depois, o coração transplantado apresentava apenas 3% de funcionamento. Apesar do agravamento do quadro, conseguiu realizar o sonho de prestar o Enem mesmo internada em um hospital no Distrito Federal. Em 2023, fez um transplante de rim. Em 2024, passou por seu terceiro transplante cardíaco. Após meses internada em uma UTI, faleceu por choque séptico e insuficiência renal crônica.
A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), responsável pelo Incor, informou que as estudantes não pertencem à instituição e participavam apenas de um curso de curta duração no hospital.
O caso de Vitória chegou a ser retratado em rede nacional, em reportagem exibida pelo programa Profissão Repórter. A família agora busca responsabilização ética das estudantes.