Redação Jornal Americanense

Exposição de Tesouros Ancestrais do Peru chega a São Paulo

Exposição de Tesouros Ancestrais do Peru chega a São Paulo

Sucesso no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, a exposição Tesouros Ancestrais do Peru chega ao Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB) em 04 de setembro. A mostra convida o público para uma viagem no tempo na qual é possível conhecer de perto a história e cultura das antigas civilizações andinas. São mais de 162 peças datadas entre 900 a.C e 1600 d.C, a grande maioria em cerâmica, cobre, ouro, prata, além de têxteis. A entrada é gratuita e os ingressos podem ser retirados na bilheteria ou pelo site: http://bb.com.br/cultura.  

Divida por cinco blocos temáticos – Linha do Tempo, Mineração, Divindades e Rituais, Cerâmica e Têxteis e Colonização –, a mostra reúne um conjunto raro de objetos, descobertos em diversas expedições arqueológicas, que é reconhecido como patrimônio pelo Ministério da Cultura do Peru, pertence à Fundação Mujica Gallo, e faz parte do catálogo do Museo Oro del Perú y Armas del Mundo.

A exposição, que ocupará os quatro andares do CCBB SP e fica em cartaz até 18 de novembro é patrocinada pelo Banco do Brasil e BB Asset Management, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A organização é da Arte A Produções.

Cultura andina

Tumi ou faca cerimonial, com uma representação antropomórfica do deus Lambayeque chamado Naylamp.

Crédito: Museo Oro del Perú – Armas del Mundo | Fundación Miguel Mujica Gallo

Também conhecido como Tahuantinsuyo, ou “Terra de Quatro Regiões”, na língua quechua, o Império Inca foi a maior e mais importante reunião de culturas da América antiga. Com base em Cusco, sede política localizada no atual Peru, era formado por diversos povos e atingiu, em seu auge, cerca de 12 milhões de habitantes. Politeístas, os incas conseguiram, entre 1438 e 1532, unificar, seja pela força ou por alianças, sociedades da região costeira do Oceano Pacífico e da cordilheira dos Andes.

Espalhados por um território estimado em 4 mil quilômetros, que ia do sul da Colômbia até partes do Chile e da Argentina, passando por todo o Equador, Peru e Bolívia, os povos da região tinham em comum o domínio de técnicas sofisticadas de administração, mineração, irrigação, agricultura, cerâmica, produção têxtil e arquitetura. O mais conhecido e visitado desses territórios é Machu Picchu, um dos poucos não destruídos completamente durante o processo de colonização.

Na mostra, traços culturais dos povos andinos são revelados em utensílios como depiladores, bolsas, penachos, máscaras funerárias e coroas feitas de ouro. Há também módulos dedicados à cerâmica e aos objetos têxteis, como jaquetas, gorros e sapatos. No acervo estão ainda Tumis, espécies de facas ornamentais usadas durante cerimônias de sacrifícios de animais e, em casos excepcionais, de humanos.

“O desenvolvimento de todas essas culturas revela um acúmulo histórico notável de conhecimentos e a maestria em diversas técnicas e ofícios, refletidos na elegância e complexidade das peças apresentadas. A habilidade na mineração e na confecção de objetos feitos de ouro, prata, cobre e outros minerais atinge um nível de sofisticação excepcional, mesmo nas civilizações mais antigas”, explicam Patricia Arana e Rodolfo de Athayde, curadores da exposição.

Taça cerimonial.

 Crédito: Museo Oro del Perú – Armas del Mundo | Fundación Miguel Mujica Gallo

Da agricultura à colonização

No primeiro bloco, Linha do Tempo, são pontuados os momentos-chave de mais de 10 mil anos de história andina, desde os primeiros habitantes (pescadores e caçadores) até o surgimento da agricultura de irrigação. Essa evolução permitiu que essas populações desenvolvessem um alto nível tecnológico, dedicando-se à produção cerâmica, à metalurgia e têxteis, alcançando um notável desenvolvimento cultural.

Já o segundo bloco, Mineração, aborda o domínio sobre os metais, o controle sobre o ambiente natural e, consequentemente, seu impacto nas dinâmicas das estruturas do poder. Trata-se de um aspecto fundamental do desenvolvimento dos povos que utilizavam ferramentas diversas para extrair e utilizar cobre, ouro e prata, produzindo objetos de notável elaboração.

Na área Divindades e Rituais é possível conhecer peças em ouro e prata, cerâmica e frisos de personagens divinos e semidivinos, que orientavam o sistema teocrático-militar operado a partir de complexas cosmovisões fundadoras das culturas andinas.

Os metais eram usados para decorar edifícios, adornar corpos e vestes reais em rituais e oferendas funerárias. Um detalhe é que só as pessoas pertencentes à elite podiam usar ouro. Nesta área são expostas máscaras e luvas feitas do mineral, além dos Tumis e dos recipientes usados em rituais sagrados, como os utilizados para recolher o sangue dos seres sacrificados.

No quarto bloco, Cerâmicas e Têxteis, estão peças e informações sobre as técnicas utilizadas desde 1.800 a.C. para produção de barro moldado e cozido em fornalha. Essas técnicas permitiram uma produção intensa de utensílios usados também para expressar ideias e representar estilos de vida e tradições. Também é mostrada a importância da domesticação de animais como lhamas e alpacas para a produção têxtil e artística.

Trombeta.

Crédito: Museo Oro del Perú – Armas del Mundo | Fundación Miguel Mujica Gallo

A seção Colonização trata da história de domínio do império Inca pelos espanhóis e a fundação do Vice-reinado do Peru. Esse bloco expositivo pretende mostrar a assimetria desse violento encontro de civilizações, que funda uma nova identidade sincrética e mestiça, sobre as ruínas do império Inca.

O percurso da exposição conta com o Projeto Panaca que divulga, por meio de vídeos de desenhos animados, a história das culturas antigas do Peru. A série de filmes será exibida ao público e é parte do conteúdo educativo da mostra. 

Elo entre gerações

A mostra apresenta também obras contemporâneas propondo um olhar que amplia a leitura do acervo, a fim de provocar uma visão crítica e reflexiva sobre a representatividade das peças.

O legado e o compromisso com a preservação de conhecimentos ancestrais afloram na cuidadosa réplica contemporânea do “Quipu de Nasca”, elaborada pelo arqueólogo Alejo Rojas. O instrumento também é tema na obra “Quipucamayoc”, de Alexandra Grau, uma recriação de quipus coloridos, que aludem a essas ferramentas de registros e contabilidade dos Incas. Os diferentes nós feitos nas cordas criam uma linguagem que guarda a história dessa cultura.

O videoarte “Técnicas de deformação plástica” de Bete Esteves e Beth Franco utiliza imagens das técnicas de mineração e trabalho nos metais para criar uma relação com os métodos violentos narrados pelos protagonistas.

O peruano Iván Sikic, apresenta a obra “Saqueo” (Pilhagem). Sua referência são os diferentes momentos da história em que a extração compulsiva do ouro gerou um significativo impacto cultural ou ecológico. A instalação questiona o legado colonial e os efeitos da mineração ilegal do ouro até a atualidade.

Ecos até os dias atuais

As peças da exposição são raras em diversos sentidos. Quase tudo o que havia em território inca foi destruído, roubado ou derretido. Posteriormente, também foi saqueado por assaltantes de monumentos arqueológicos, conhecidos no Peru como huaqueiros, que reviraram tumbas e centros cerimoniais em busca de peças a serem vendidas ilegalmente a colecionadores.

Dos poucos objetos que sobreviveram, os mais comuns são oferendas funerárias compostas por pequenas figuras de ouro e prata de mulheres e homens. Essas figuras parecem representar os jovens que acompanhavam os mortos em seus processos funerais: em geral, ficam de pé, têm as mãos sobre o peito ou seguram objetos como leque ou espiga de milho. Algumas dessas imagens foram encontradas em sítios arqueológicos vestidas com tecidos e penas.

“As peças que resistiram ao período da voracidade dos colonizadores e dos huaqueiros foram encontradas em escavações arqueológicas. Não temos ideia do que se perdeu. Até as construções espanholas foram edificadas sobre monumentos e locais incas, uma amostra clara da necessidade de legitimar o seu poder”, explica o curador, Rodolfo de Athayde. “A história das peças é a história viva do desenvolvimento das civilizações andinas até o império inca, o mais importante que já se formou nas Américas”, completa.

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