A Polícia Federal argentina prendeu Brenda na noite de domingo, 4, em uma estação de trem de Buenos Aires
Brenda Uliarte é argentina e tem 23 anos. O pai dela é um motorista de ônibus simpático ao peronismo, enquanto o namorado, o brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel, de 35 anos, tentou disparar contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na noite de quinta-feira, 1°. Esses são alguns dos poucos fatos que a polícia e a imprensa argentina conseguiram confirmar para além de qualquer dúvida razoável em meio a um turbilhão de informações – e versões – que surgem sobre a identidade e a vida da jovem.
A Polícia Federal argentina prendeu Brenda na noite de domingo, 4, em uma estação de trem de Buenos Aires. A prisão foi autorizada pela juíza que comanda a investigação do atentado contra Cristina, após imagens filmadas em frente da casa da vice-presidente mostrarem que a jovem argentina estava no local no momento do atentado, segundo uma fonte ouvida pela Associated Press em sigilo. As autoridades investigam se Brenda teria ajudado Montiel na tentativa de atentado.
Mas além dos fatos já mencionados e das imagens que motivaram a prisão, muito sobre a jovem permanece turvo. De acordo com a imprensa argentina, Brenda alimentou diferentes perfis nas redes sociais ao longo dos anos, apresentando-se com diferentes personalidades em cada um deles: de atriz pornô a estudante de medicina, chegando a simular um suicídio em um deles.
De acordo com o jornal argentino Clarín, Brenda utilizava diferentes contas, todas com nomes diferentes, como Ambar, Sasha e Lizz Manson. Cada um dos alter egos virtuais criados por ela tinha uma personalidade e uma profissão. Como Ambar, por exemplo, Brenda realmente se apresentava em plataformas de streaming produzindo conteúdo erótico. Como Lizz Manson, fingiu ter cometido suicídio por não “encontrar sentido na vida”, disseram seguidores dela na rede social, segundo o jornal argentino.
No LinkedIn – uma das únicas redes em que Brenda utilizava seu nome real -, ela se apresentava como “pessoal de limpeza” da Shell. A família afirma desconhecer qualquer das ocupações da jovem – tanto as reais quanto às que parecem ter sido inventadas “Até onde eu sei, ela nem terminou o ensino médio. É como se ela estivesse falando de outra pessoa, não dela mesma. Ele está fabulando. Acho que ela vive em um mundo de fantasia, que está delirando e que se aproveitaram dela”, afirmou um tio de Brenda ouvido pelo La Nación.
Aparições na TV
Brenda Uliarte apareceu pelo menos duas vezes na televisão argentina. Em uma delas, ao lado de Fernando Montiel, ela participou de um quadro popular do Crónica TV, que entrevista pessoas nas ruas, criticando programas sociais do governo argentino – que, nas palavras dela, “fomentariam a vagabundagem”
Na entrevista, Brenda afirma que trabalharia vendendo algodões-doces para pagar pela faculdade de medicina. Uma prima ouvida pelo La Nación afirmou não saber sobre o curso de medicina, mas disse já ter visto Brenda sair para vender algodão-doce.
A entrevista também teria tido um efeito negativo, segundo familiares. Certo dia, ela apareceu na casa de uma prima que trabalha como cabeleireira pedindo para tingir o cabelo, contando que estava sendo xingada no bairro em que a família mora, em San Martín, pela associação dos programas sociais com vagabundagem.
A outra aparição da jovem foi após o atentado. Brenda participou de uma entrevista na Telefe, na qual exigiu ser chamada de Ambar Ela reiterou ser vendedora de algodão-doce e disse ter tomado conhecimento sobre o atentado pela televisão – o que os vídeos utilizados como argumento para a prisão negariam.
Brenda também disse na entrevista que morava com Fernando Montiel em um apartamento em Villa Zagala – o mesmo revistado pela polícia argentina, onde foram encontradas mais de 100 munições de arma de fogo, vibradores e muito lixo na sexta-feira, 2. À imprensa argentina, no entanto, a família negou a versão apresentada pela jovem e disse que ela morava em San Miguel, com o pai e uma tia.
Dramas reais
Por detrás da trama de mentiras e versões sem comprovação, familiares de Brenda afirmaram em entrevista que a jovem teve uma vida marcada por traumas, e que só teria começado a falar de política recentemente, após iniciar o namoro com Montiel.
De acordo com o tio de Brenda ouvido pelo La Nación, ela teria sofrido abusos de um ex-companheiro da mãe quando criança, o que fez a avó paterna levá-la para criá-la junto do pai na mesma casa onde viveriam até hoje em San Martín. “Ela ficou muito introvertida, quase não falava”, disse ao jornal argentino
Brenda também teria perdido um filho ainda bebê em 2020. Segundo os familiares, o menino de nome Lionel teria morrido de causa desconhecida ainda nos primeiros meses de vida.