“O ‘bixo’ é meu amigo, ninguém mexe com ele”. Só pelo fato de um veterano proteger um calouro, a declaração já chamaria a atenção. Mas ela também selaria uma relação de amizade e confiança que, mais tarde, ainda seria levada para a esfera pública. Essas e outras passagens da trajetória de um imigrante que chegou ao Brasil com pouco mais de dois anos de idade, com a mãe e o padrasto russos vindos de Berlim, dias antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, estão registradas no livro “Apesar disso, rolou”, de Michael Paul Zeitlin, uma publicação da Editora Adonis. O lançamento será realizado em Americana, na quarta-feira (22), às 18 horas, no Auditório Adonis Berggren Comelato (Editora Adonis). Para a participação, é necessária a co nfirmação até esta segunda-feira (20), por meio do WhatsApp (19) 99186-5479. Em dezembro, o livro será lançado em São Paulo, na Livraria Drummond (Conjunto Nacional).
Essa amizade, com aquele que viria tornar-se o 55o. governador do Estado de São Paulo, de certa forma, também foi responsável pela incursão do escritor pelo universo literário. Um artigo remetido a um jornal, intitulado com a expressão que denominaria seu primeiro livro “A menina dos olhos”, também publicado pela Editora Adonis, trazia o testemunho de que criar estradas asfaltadas para a população rural era um projeto que alimentava mais o sentimento de realização do chefe do executivo paulista do que o anel viário que abraçaria toda a Grande São Paulo.
A partir daí, surgia o interesse em escrever textos. As ideias ainda começam com o registro no papel. Mas o tratamento dado às palavras não é mais o mesmo, depois de ter feito um curso de redação, anos antes da pandemia. O ‘Micha’ de Dona Greta (mãe) e de Dona Neuza (esposa); o pai de Roberto, André e Ana; o avô de Felipe, João Pedro, Helena, Gabriel, Ana Luísa e Camila; o estudante judeu do colégio dos Irmãos Maristas; do Mackenzie (onde fez o antigo colegial, conciliado com o cursinho ministrado pelos veteranos da Escola Politécnica); da Poli; da FGV (onde também foi professor, além de melhor aluno e orador da turma de especialização – em plena ditadura); o engenheiro civil, que também trabalhou em empresa do segmento automobilístico, e doutor por Stanford (na condição de ambos obtev e bolsas que lhes permitiram, além do idioma russo de criação, aprender francês e inglês); o diretor de faculdade (com a primeira candidatura ao cargo apoiada, em carta, por um economista e cientista político que já foi ministro de várias pastas, como a da Fazenda); o secretário de Estado; o contador de histórias… possuem linhas detalhadamente discorridas nas 256 páginas do livro, organizadas em 23 capítulos e apresentadas por Antônio Carlos Rizeque Malufe, secretário executivo da Casa Civil do Estado de São Paulo, de 2019 a 2021.
“Foi uma vida movida pelo desejo de pertencer”, revela o escritor. A publicação traz relatos, quando não confidências, que ajudam a resgatar as memórias de uma vida intensa, já que, desde criança, tinha interesse pelas coisas do mundo. Essa busca começou, ainda com a ajuda da mãe, em encontrar uma escola que pudesse responder às indagações curiosas do filho que passava as férias com o pai, um engenheiro russo radicado nos Estados Unidos, para onde viajava uma vez por ano. Ocasiões em que se deparava com os contrastes com a vida no Brasil: enquanto o pai tinha dois carros, aqui, a família vivia sem nenhum e em moradia de aluguel, mas com telefone, como ele mesmo faz questão de destacar.
Passagens com o professor de ‘Física II’ do cursinho pré-vestibular (o mesmo que, mais tarde, o defenderia de outros veteranos), as que dialogam com o diário de um ex-presidente da República, e tantas outras, como parte do célebre discurso de formatura da especialização na FGV, estão registradas na publicação que, entre os diversos temas pelos quais transita, revela uma biografia que ‘apesar disso (e também daquilo), rolou’.