Visitar o Clube dos 200, hotel localizado em São José do Barreiro (SP), na divisa com Rio de Janeiro, dá a sensação de viajar nos tempos da Era Dourada Tropical, período em que o Brasil viveu profundas mudanças na economia, na industrialização e nas artes. Personagens com participação decisiva na modernização do “país do futuro” tinham o local como um reduto em suas viagens interestaduais onde pernoitavam e socializavam no colossal salão de eventos.
Com muitas das características preservadas desse período que marca o início do século passado, o hotel projetado pelo engenheiro Samuel Ribeiro e pelo arquitetado por Alexandre Albuquerque, que também assina obras como a Catedral da Sé, exibe características das construções coloniais espanholas: arcos nas entradas, pisos hidráulicos, colunas expostas com capitéis jônicos, dóricos e esquadrias detalhadas com tramas de madeira e um vitral que chama a atenção logo ao entrar no recinto.
A imaginação voa longe ao consultar um dos mais preciosos tesouros históricos do hotel, o seu livro de hóspedes. Leva a imaginar quantas conversas entre o então presidente Getúlio Vargas e seus ministros ali tiveram em tomadas de decisões importantes para o país. O Clube dos 200 era o ponto preferido da viagem de Vargas em suas idas e vindas entre Rio e São Paulo.
Política e início do ciclo rodoviário
Se registros históricos sugerem que o Clube dos 200 foi criado para driblar jornalistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais em encontros políticos e de negócios, há um outro contexto forte que dá sentido ao projeto histórico do Clube dos 200: a paixão pelo automobilismo e o marco inicial da história das rodovias no país.
Distante mais de uma década da expansão da fabricação de automóveis no Brasil, quando ainda circulavam pelas ruas os primeiros veículos do modelo Ford T, o então presidente Washington Luís iniciava o seu plano de ligar o país por longos trechos rodoviários, na fase em que cunhou a célebre frase “governar é abrir estradas”. De portas abertas a partir de 24 de março de 1928, era um ponto de parada para este seleto grupo que dez dias depois passaria a desfrutar da mais nova estrada inaugurada, a “Rio-São Paulo”, hoje conhecida como SP-68 – Rodovia dos Tropeiros.
De militares a artistas
A revolução também teve suas linhas escritas pelo Clube dos 200. De militares a artistas, a trajetória de figuras de alta representatividade para a história do Brasil também tem sua passagem registrada no Clube dos 200.
Registros extra-oficiais dão conta de que o hotel teria sido pousada em 1929 para Marechal Cândido Rondon, então diretor do extinto Serviço de Proteção ao Índio e responsável pela ampliação dos telégrafos no Brasil. É fato que no ano seguinte, o Clube dos 200 serviu de quartel general das Forças Armadas revolucionárias gaúchas comandadas por Dalton Coelho. Em seu registro de hospedagem, ele marcou no campo de profissão “revolucionário”.
Entre artistas célebres passaram pelo hotel Tarsila do Amaral, Carmem Miranda e a pin-up da Segunda Guerra Mundial e atriz de Hollywood, Rita Hayworth, protagonista de dezenas de filmes.
“Todo o requinte e memória de um hotel que serviu de repouso e de horas de descontração para gigantes da história segue desde a década de 1950 aberto ao turista. O Clube dos 200 é mais um dos atrativos de São José do Barreiro, uma cidade que se orgulha de ser um importante destino do turismo histórico do país”, afirma Ana Paula de Almeida, secretária de Turismo de São José de Barreiro.
A Secretaria de Turismo orienta os turistas a procurarem agências do município que têm guias especializados para conduzir a visitação ao Clube dos 200, inserida nos roteiros pedagógicos e históricos destas empresas. É fundamental antecipar a consulta para reservar a visitação, com horários programados.