Gisele Cristina Felipe já estava com 50 anos de idade quando decidiu perseguir o sonho de estudar moda. Trabalhou a vida toda em lojas de roupas na cidade de Americana, como vendedora, gerente e proprietária de boutique por quinze anos, até ser obrigada a fechar as portas durante a pandemia de covid-19.
“Com as manhãs livres, decidi que era o momento de voltar à sala de aula depois de 30 anos. Foi um desafio imenso, mas os professores e os outros alunos me ajudaram muito. Três anos que mudaram minha vida”, conta emocionada.
Passou no vestibular para o curso superior de Tecnologia em Produção Têxtil, na Fatec (Faculdade de Tecnologia do Estado) de Americana e conheceu a também veterana Maria Luiza Veloso, então com 41 anos. Formada em modelagem, filha de costureira, Luiza cresceu entre máquinas e tecidos e logo começou a desenvolver peças para as amigas. “Tenho um ateliê onde dou aulas de modelagem, corte e costura. Estou trabalhando o lançamento de uma marca própria”, conta.
‘Resultado estético’
Durante as aulas de estamparia descobriram a técnica desenvolvida pela australiana Índia Flint e formaram dupla para o TCC (trabalho de conclusão de curso). O tema seria estamparia botânica e tingimento natural. “Decidimos ressignificar peças velhas usando flores e plantas já descartadas. Foram muitas pesquisas até chegar a uma técnica de resultado estético e boa fixação”, conta Gisele.
Assim, blusas manchadas ganharam florais, jeans receberam desenhos de folhas e uma jardineira linda fez sucesso imediato. Em uma aula prática conheceram representantes da têxtil Santista e veio o convite para criar uma coleção de inverno. A proposta de moda com menor impacto ao meio ambiente trouxe a rebote modelagens mais inclusivas e roupas sem restrição de gênero ou tamanho.
“O setor têxtil atualmente passa por um processo de transformação, onde a pegada sustentável deve ser um dos pilares a serem seguidos”, comentou o coordenador do curso, Daives Bergamasco.
Gisele e Maria Luiza se formaram em julho de 2023 e seguiram seus caminhos profissionais, mas mantém contato e recebem convites para palestras e exibições na Fatec. Seguem aprimorando a Estamparia Botânica e depois de voltar à sala de aula, não querem sair mais.
“Estou realizada por fazer minha faculdade e já tenho pós-graduação em modelagem encaminhada”, diz Maria Luiza. “Sigo estudando tingimentos naturais e comecei uma pós-graduação em marketing de moda. Estou com 54 anos e posso dizer que nunca é tarde para aprender e perseguir nossos sonhos”, resume Gisele.