Redação Jornal Americanense

De Nova Odessa a Nova York: Torelli conta ao JA a jornada que realizou em um Uno 2002

A bordo de um Uno 2002 transformado em casa móvel, o empreendedor Luiz Henrique Torelli passou por diversos países da América até chegar à Times Square e agora conta os desafios de seu trajeto ao JA

Em setembro de 2021 o JA entrevistou Luiz Henrique Torelli, empreendedor de Nova Odessa que tinha o sonho de viajar a América a bordo de um Uno 2002 transformado em casa móvel, com mobília, eletrodomésticos e até mesmo um banheiro com chuveiro e sanitário.

Hoje, passado um ano, o sonho de Torelli enfim se tornou realidade, com a chegada do aventureiro ao ponto mais esperado de seu trajeto: a Times Square, em Nova York. Em um bate papo instigante e descontraído, o empreendedor contou ao JA um pouco de sua jornada.

Da partida de Nova Odessa até as primeiras dificuldades no Peru

A viagem de Torelli começou no dia 3 de março de 2022, quando saiu de Nova Odessa com 4 mil reais no bolso em direção à Foz do Iguaçu. Cruzando a fronteira com a Argentina (a primeira que ele realizou a bordo de seu motorhome), ele passou por Salta, subiu à Bolívia, atravessou o Salar de Uyuni (o maior deserto de sal do mundo), visitou o Lago Titicaca (o mais alto lago navegável do mundo), e entrou em Puno, na divisa com o Peru.

“O lago mais parece um oceano, incrível paisagem a mais de 4 mil metros de altitude”, publicou Torelli a respeito do Lago Titicaca em sua conta @um.a.uno no Instagram

Embora a primeira parte de seu itinerário tenha sido razoavelmente tranquilo até então, foi no Peru que enfrentou as suas primeiras dificuldades, conta o empreendedor.

“Uma das maiores dificuldades foi atravessar a Cordilheira dos Andes. Havia pista com gelo, altitude de 5 metros e, nessa altura, o carro começa a falhar e eu também. Lá em cima falta ar, a gente começa a passar mal, mas mesmo assim a gente atravessa. Foi uma viagem de 6 a 7 horas para passar pela Cordilheira dos Andes por cima. Até que eu cheguei ao Oceano Pacífico, no Peru, e de lá subi até a capital Lima. Em Lima tive que trocar os pneus do carro. Uma empresa me deu quatro pneus e dali segui em viagem até a fronteira com o Equador”, narra Torelli.

Na Colômbia, Torelli viveu um momento digno de seriado

Uma vez no Equador, tendo passado por Quito e por Ibarra, região vulcaneira, a sua jornada rumaria para a Colômbia, país onde viveu um dos maiores momentos de medo em seu percurso. Em Hacienda Nápoles, local onde morou o narcotraficante Pablo Escobar, Torelli conta que precisou fugir correndo.

“Um traficante de lá, do estado de Antioquia, onde fica Medellín, foi extraditado para os Estados Unidos e os narcos começaram uma espécie de rebelião, colocando fogo em carros e matando gente, e eu estava lá no meio. Eles fecharam todas as estradas e atearam fogo nos carros. Eu peguei uma dessas estradas fechadas e tive que sair meio que corrido dali. Em Cartagena, eu coloquei o carro no contêiner.”

O automóvel de Torelli demorou uma semana para chegar ao porto de Panamá, em Cólon. De Cartagena para o Panamá, o empreendedor tomou um voo, retirou o veículo por lá e então iniciou a sua viagem pela América Central.

“Estar aqui foi como estar em Narcos uma parte triste da história da Colombia que não deve se repetir”, afirmou o empreendedor em seu Instagram

Na Costa Rica, o aventureiro recebeu a notícia de que um de seus melhores amigos, que também viajava a América de carro, acabou falecendo

“Eu cortei todo o Panamá. Fui até a costa do Atlântico, no Caribe da Costa Rica. Visitei uma praia chamada Punta Uva, o lugar mais bonito que eu passei no Caribe e onde recebi a notícia da morte de um amigo nos Estados Unidos: Jesse Koz e o seu cachorro Shurastey. Ele era meu amigo e a gente ia se encontrar nos EUA e voltar dirigindo juntos”, conta Torelli, que lembra ainda que a praia onde ele estava havia sido justamente uma indicação de Jesse.

“Um dia antes dele falecer, eu estava falando com ele e ele me indicou: ‘Vá nessa praia, que é uma das praias que eu mais gostei quando passei por aí. Você vai gostar muito’. Eu não planejava visitar esta praia, mas acabei cortando e mudando toda a minha rota para ir para lá e foi justamente nesta praia que recebi a notícia que ele tinha falecido”.

Sobre a sua relação com Jesse, Torelli comenta: “Ele foi uma inspiração para esse projeto. Ele já viajava há muito tempo, mais de cinco ou seis anos, e eu sempre acompanhava ele no Instagram. A gente se encontraria aqui na Califórnia. Ele faria o Alaska e eu os EUA por aqui. Depois a gente se encontraria e desceria para o Brasil dirigindo, mas aí aconteceu essa fatalidade”.

Segundo o novaodessense, o momento foi tão marcante que ele teve vontade de desistir da viagem ali na Costa Rica e retornar ao Brasil. Depois de um tempo, com a ajuda de seus seguidores, o empreendedor decidiu continuar o percurso, já que estava quase completando o seu objetivo.

A continuação de seu itinerário na América Central e México, e uma forte crise de ansiedade

“Dali eu entrei na Nicarágua, um pais muito bonito que é um contraste de belezas naturais, vulcão, praias bonitas, ilhas, com comunismo. A capital Manágua tem várias referências de chavismo, de sanderismo. As avenidas têm várias imagens de Hugo Chavez, de sanderismo, essas coisas. Mas é um país muito bonito ,de pessoas muito amáveis. Gostei muito da Nicarágua, muito tranquilo”, lembrou Torelli.

Torelli visita um vulcão em atividade em Nicarágua

“Depois eu fui para Honduras. Ali já é mais pesado. É muito narcotráfico, muito policial na rua e os comércios todos têm seguranças armados na frente de todas as empresas e estabelecimentos… Eu cortei Honduras em três dias, quase mil quilômetros. Cortei o país inteiro em três dias e entrei na Guatemala”.

Torelli ficou entusiasmado com a beleza da Guatemala, tendo conhecido Tikal, a maior cidade perdida dos maias, e também a Isla de Flores. De lá, o empreendedor partiu para o México, onde fez amigos e seguiu viagem, passando por Campeche e Vera Cruz.

“Uma cidade Maya perdida na selva com toda estrutura, tecnologia e astronomia construída 200 A.C”, postou Torelli a respeito da Guatemala nas redes

Em Tampico, no entanto, ele relata ter sentido uma forte crise de ansiedade: “Me deu síndrome de pânico. Eu tive que ficar parado um tempo ali, fui para o médico e tudo. Foi muito difícil aquela situação em Tampico. Tive que ser medicado. Estou tomando medicação ainda para controlar essas crises, mas foi muito difícil superar. Agora eu já estou mais tranquilo, tomando remédios, fazendo tratamento. Fiquei quase uma semana parado ali me recuperando e segui viagem rumo à fronteira com os Estados Unidos”, comentou Torelli.

A chegada aos Estados Unidos e à Times Square

Para chegar aos EUA, Torelli já havia percorrido 128 dias de viagem, desde o dia em que saiu de casa em Nova Odessa. Sua primeira cidade estadunidense? Bronwsville, no Texas. Engana-se, no entanto, quem pensa que a partir daí a viagem tenha deixado de ter perrengues.

Na fronteira, o empreendedor experimentou algumas dificuldades: “Pelo fato de eu trabalhar com mídias sociais, eles queriam comprovante de rendimento e eu não tinha. Aí eu consegui um extrato bancário e mostrei para eles. Eles me disseram que se eu não tivesse um comprovante, eles iriam me deportar. No fim eu consegui ser liberado e passar pela fronteira.”

Um outro problema? Gasolina boa! “Quando eu cheguei aqui nos EUA o carro, que estava acostumado com gasolina ruim, pegou gasolina boa e meio que estranhou. Eu tive que trocar a vela e a bomba de combustível. Eu mesmo que fiz o serviço”.

A cidade de Brownsville no Texas foi a primeira em solo estadunidense que Torelli pisou

No país, o empreendedor passou ainda por Louisiana e outros estados e rumou em direção ao norte, até chegar à Nova York.

Poucas semanas antes de chegar à Times Square, o empreendedor havia revelado ao JA: “Tenho uma vontade grande de conhecer Nova York. Não conheço ainda e ao colocar o Uno na Times Square eu acho que o meu sonho já estará provavelmente completo”.

Nesta semana, o sonho se tornou realidade e a alegria foi compartilhada em fotos enviadas ao JA e também em suas redes sociais: “Aqui onde os sonhos acontecem. Onde eu toco o céu. Onde os meus olhos brilham de felicidade. Dedico a vocês Vó e Vô por me ensinarem a humildade e o respeito. Obrigado Deus”.

Depois de retornar ao Brasil, o empreendedor pretende continuar viajando

E depois de atingido o ponto, o que o aventureiro pretende fazer? “Previsão de chegar no Brasil eu ainda não tenho. Eu posso ficar aqui nos EUA até começo de janeiro de 2023. Talvez eu retorne para o Brasil no final de dezembro, passe o fim de ano por aí e volte depois para terminar a expedição, tentando chegar ao Canadá ou ao Alaska”.

Torelli garante, no entanto, que a viagem não para depois de retornar ao seu país natal. “Eu pretendo continuar viajando. Esse negócio de viagem já virou um meio de vida para mim. Eu vou continuar viajando com certeza quando voltar para o Brasil. Tem muita coisa para conhecer. Tem o Ushuaia, no final do fim do mundo. Tem a Patagônia. Tem o Brasil, tem muitos lugares do Sul que não fui ainda”.

“Mais para frente, não sei como vai estar o carro (preciso fazer uma revisão mecânica nele), mas talvez uma tour pela Europa. Mas isso é um negócio ainda meio distante para mim”, conclui Torelli.

“Muita emoção”, descreveu Torelli ao JA o sentimento que sentiu ao chegar à Times Square, em Nova York

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